APENAS O FIM
Era começo de primavera quando meu melhor amigo me indicou um filme nacional que ele havia visto. Achei coerente combinar meu fim de inverno – externo e interno – com algo mais leve do que o que eu andava assistindo.
“Apenas o Fim” remeteu-me muito ao clima acadêmico no qual eu estou inserida há alguns anos. O filme é independente, foi feito com oito mil reais arrecadados a partir de uma rifa de whisky. Dirigido por Matheus Souza, estudante de cinema, e filmado em sua própria faculdade, a PUC do Rio de Janeiro, o longa mostra os últimos momentos na vida de um casal. Adriana (Érika Mader) decide fugir da rotina e dos problemas em que havia se metido e deseja passar seu último dia com o namorado, Antonio (Gregório Duvivier). Durante toda a trama, os dois relembram situações pelas quais passaram juntos ao longo dos quatro meses de namoro.
Na superfície, é uma comédia com diálogos até mesmo, às vezes, cansativos. Essencialmente, mexeu comigo de uma forma que eu nunca esperei para um início de primavera. Desde o que se sente estando numa universidade até detalhes (bons e ruins) de um relacionamento e da cabeça de uma garota de vinte e poucos anos. Em determinadas partes, a vontade de desaparecer impulsivamente, como Adriana resolveu fazer, bateu com força. Não falo de depressão-sem-motivo ou coisas do tipo, vejo na protagonista algo mais que apenas uma garota-descolada-usando-grandes-óculos-retrô. Talvez, além de uma vontade de ser diferente, enxergo nela todo o desespero que bate quando um jovem tenta associar estudo-trabalho-amor(es). E acaba que cada um encontra a solução em algum tipo de fuga (no caso de Adriana, no sentido literal).
Ao longo do passeio do casal pela faculdade, alguns flashbacks em preto e branco intervêm na tela. São episódios dos dois conversando sobre variados assuntos, deitados em uma cama. Lembro-me mais do diálogo que me fez soltar um sorriso – mais que entendendo, concordando: quando Antonio pergunta, “O que você acha mais importante: amor ou sexo?”, ao que Adriana responde prontamente: “A primeira opção! – pausa – Aliás, o que você falou primeiro?”. Mais que uma opinião, mais que um devaneio, mais que um estou-perdido-e-não-sei-diferenciar-um-do-outro, vejo tal assunto como um princípio.
Para não lamber o filme inteiro, digo que alguns problemas são claros, como a falta de experiência e até mesmo certo desânimo na atuação de Érika Mader. Mais, vejo cenas e atores secundários que poderiam ter sido cortados, deixando o filme mais limpo; certas tomadas mal colocadas que caso tivessem ficado de fora, teria havido menos possibilidades de cenas cansativas, que não andam nem desandam. Apesar disso, tudo pode ser perfeitamente entendido quando se parte do fato de que foi usado o que se tinha às mãos; e, vendo por este lado, toda a produção torna-se incrível, quase impressionante.
Tendo “Apenas o Fim” como o primeiro filme de sua carreira, acredito que pode-se esperar muito por vir deste jovem diretor. Talvez mais algumas – pequenas ou grandes – produções com ótimos diálogos, garotos que gostam de Star Wars e usam os óculos do avô, e garotas de All Star, óculos retrô e que choram com Under Control.
Um pedacinho de cada um está neste casal encantador, que faz com que a gente passe o filme todo torcendo para que Adriana mude de ideia, desde uma frase até uma semelhança na aparência. Por mais diferente que seja, acaba que todo mundo combina em alguma coisa. Woody Allen diria – realista, ainda que pessimista – que “a vida é uma situação de perdas e perdas”: todos sabendo que existe um prazo de validade para tudo e que quando chega ao fim, terá chegado a isto, apenas o fim, e não mudará o resto das próprias vidas.
P.S.: demorei a encontrar o filme em DVD para comprar, até que consegui pela loja online das Casas Bahia (já estando indisponível de novo). O outro lugar onde achei foi no Star Cine Shop, por um preço sensacional: http://tinyurl.com/2v4vy9t
Acho muito, muito, muito interessante apoiar o cinema independente, principalmente do nosso país e de um diretor tão jovem. Criar expectativas sobre o que é nosso é extremamente válido.
Ana
Ana